quarta-feira, 2 de novembro de 2011

História real de gente comum

Lá pelos 13 anos, o garoto toma aquela decisão que já passou pela cabeça de crianças de meio mundo: “Vou fugir de casa”. O plano para ir à Bahia era na verdade um meio de escapar da mão pesada do pai, de evitar as surras. Na prática ele foi parar em Ipanema, com uma mala e todo o salário do pai, que acabara de sair e havia sido escondido no bolso de uma roupa, no armário de seus pais.

Uma saída do pai, uma distração da mãe e lá estava ele na rodoviária de Volta Redonda. Duas horas depois chega ao Rio e pouco adiante estava em frente à praia de Ipanema. A sensação de liberdade e de vida nova seguia lado a lado com o medo do desconhecido.

O garoto teve preferiu não se hospedar: “O que vou dizer se me perguntarem com quem estou ou onde estão meus pais?!”. Ficou decidido que dormiria na praia. Para não ser assaltado, cavou um fundo buraco, jogou a mala, entrou e, durante a noite, dele só aparecia a cabeça e os braços. Para o dia restava caminhar pelas ruas da cidade grande, com a mala a tiracolo. A rotina durou cinco dias.

Fora então a procura de uns amigos da família. Sem endereço, ele contentou-se em começar a busca sabendo apenas que a casa ficava em uma transversal da extensa rua principal da Tijuca. Sabia também que o número do telefone começava com dois. Só.

Estava disposto a gastar uma semana percorrendo todo o trajeto, mas não foi necessário. Um pouco de papo jogado fora com meia dúzias de pessoas e o garoto boa praça foi levado até a casa da família.
Depois do banho com água doce, em falta há cinco dias, tratou de contar as aventuras, ainda um pouco acanhado. A preocupação era simples: se seus pais soubessem de seu paradeiro, tudo estaria acabado; retornaria a Volta Redonda e ainda teria que enfrentar certa fúria de seu pai.

“Não, não vamos contar. Ninguém ficará sabendo”. O menino acreditou na história e dois dias depois, como não poderia deixar de ser, pai e mãe chegaram ao Rio. O discurso era simples; “Filho meu mora comigo”.  E nesta história foi-se a chance de permanecer na casa dos amigos, foi-se a oportunidade de ser adotado pela madrinha (que tinha boas condições financeiras, morava no Rio e fez a proposta ao saber da confusão).

A desventura de uma semana, não se pode negar, fez do garoto mais corajoso. O único a apanhar entre os irmãos encheu o peito e se impôs. “Volto, mas só se for para nunca mais apanhar”. Dito. Feito.

A última fez que seu pai lhe levantou a mão já havia passado, foi antes da ida ao Rio. Engana-se, porém, quem acredita que isto resolva a história. A vida do rapaz ainda era muito curta e os problemas haviam apenas começado.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Empresas ainda compram férias?

Não raro, ouço por aí histórias de gente que ­- entra ano, sai ano ­- continua a trabalhar sem aquele intervalo de 30 dias que chamam de férias. Muitas vezes pesa na decisão a graninha extra, que seduz o trabalhador, e a obrigação de não atrapalhar a produção final, martelando a cabeça dos chefes. Ok, pensando de forma bastante imediata, a permanência do empregado no serviço durante as férias até pode ser uma solução.

Mas na verdade o que o trabalhador busca não é bem-estar e estabilidade no emprego? Pra mim, férias servem pra respirar! É tempo de abrir a cabeça, ampliar o horizonte, conseguir enxergar tudo com mais clareza, relaxar e ganhar ânimo.

E o que o chefe poderia querer senão alguém com a cabeça aberta, o horizonte amplo, enxergando com mais clareza, relaxado e animado? Não seria esse um perfil mais propenso a um bom rendimento, a novas idéias e a um convívio harmônico com a equipe de trabalho? 

Se não for, minha visão de mercado de trabalho é realmente muito limitada. Pode ser...

Na quarta acabam as minhas férias. Foram lindos e proveitosos dias. Certamente, volto a trabalhar melhor do que a Fernanda que saiu no dia 22 de agosto. Pode ser que tenham razão aqueles que dizem que 30 dias é tempo suficiente pra descobrirem que você não é fundamental... Aí toda esta história vai pro brejo, mas ainda prefiro acreditar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Revolución


Éramos estranhas naquele lugar e os de lá sabiam isto de olhar de longe. Mesmo sem abrir a boca pra deixar evidente o portunhol arrastado e sem uma câmera fotográfica nas mãos, para dar o ar de turista, era possível ouvir um comentário ou outro dizendo: “Brasileiros”! Sim, os chilenos nos reconhecem!

A primeira impressão que o Chile me passou (vou me limitar a comentar somente esta pra que o post não fique tão cansativo) é que ele abriga um povo que sabe o que quer, além de possuir uma civilidade graciosa.


Apesar da ditadura de Pinochet ter acabado há anos, a repressão no país ainda é grande e nada melhor do que chegar lá no primeiro dia da paralisação geral, com a polícia a todo combate, para constatar isto. Logo na nossa primeira caminhada nos deparamos com manifestantes, policiais, carros blindados, jatos d’água (mirando inclusive naqueles que nem sequer protestavam, mas voltavam para casa depois de uma jornada de trabalho). Ao acaso fomos parar lá – no ninho da manifestação.

A causa não é nova: Educação; mas o contexto difere bastante do Brasil. Por lá, a universidade pública é paga (e cara, bem cara! Os preços são mais altos, inclusive, que nas faculdades privadas!).

Mas o que me chamou atenção mesmo foi a determinação do pessoal em sair às ruas, de fazer um protesto bonito de se ver. E, claro, o apoio de [quase] toda sociedade. Salvo um ou outro, os comentários eram todos muito favoráveis a tudo o que acontecia por lá. Prova disto é a adesão de grande parte dos trabalhadores em uma paralisação geral, que durou dois dias.

Dia e noite, durante 180 horas, centenas de estudantes se revezaram em uma corrida com bandeiras do país por ruas centrais. De tanto correr, venciam o frio e passavam por nós de camiseta em plena madrugada friorenta. Em outra frente, marchavam pelas ruas do centro, em percurso previamente planejado. Enfrentaram policiais, jatos d’água, gás lacrimogêneo (não foi legal a parte de descobrir na pele os seus efeitos)...

E naquela história de determinação de um lado e repressão de outro, a faixa de protesto deixava claro: “O povo não tem que temer os governantes; os governantes têm que temer o seu povo”.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Versão 2.0

Não foi atoa que “você” ganhou o título de pessoa do ano, pela revista Time, em 2006. Os usuários da internet, que antes eram consumidores de informação, agora agregam conteúdo da rede, mudando a perspectiva de receptor e emissor. Não há nenhuma grande novidade para aqueles que já nasceram inseridos no contexto da web 2.0. Mas, quando a análise volta um pouco no tempo, temos uma mudança na forma com que os meios encaram e interagem com o público.

A informação, que antes precisava ser veiculada em grandes e conceituados meios de comunicação para ganhar relevância, agora, muitas vezes, chega a esses meios em razão da repercussão causada por “você” ou, melhor dizendo, por “vocês”. Publicar um vídeo no Youtube, um post em um blog, fazer um twett ou até mesmo um comentário em um site jornalítisco pode trazer repercussão e se espalhar pela rede em pouco tempo.

Em alguns casos, o meio é construído com base somente nas informações que internautas se dispõem a criar e reproduzir, como o caso do overmundo.

O movimento de inserção do usuário no conteúdo caminha por várias frentes: o próprio internauta, que tem demonstrado pré-disposição na adesão dos canais; de criadores e administradores focados na web, com a criação de plataformas valorizando a interatividade; da imprensa (até então tradicional), que apostou em “Eu, repórteres”, comentários etc.

Conteúdo com maior relevância que o meio?

Apesar de não ignorar a questão da credibilidade, conquistada ao longo dos anos pela mídia tradicional, agora podemos admitir que blogs e conteúdos alternativos também têm possibilidade ampla de conseguí-la. E, contraditório ou não, os meios que tentaram limitar essa participação, em uma “sonhada” distinção de poderes, ficaram para trás. A já conhecida história do público determinar o sucesso de um empreendimento também funciona na web 2.0. E os internautas parecem querer participar sempre e muito.

Dentro de um contexto de interatividade intensa, há também conteúdos que poderiam ser desprezados. Mas, a influência boa me parece superar a os aspectos negativos. Relembrando a citação que o texto ‘O show do eu’ fez da revista Time “Milhões de mentes que de outro modo teriam se afogado na escuridão ingressam na economia intelectual global”.