Lá pelos 13 anos, o garoto toma aquela decisão que já passou pela cabeça de crianças de meio mundo: “Vou fugir de casa”. O plano para ir à Bahia era na verdade um meio de escapar da mão pesada do pai, de evitar as surras. Na prática ele foi parar em Ipanema, com uma mala e todo o salário do pai, que acabara de sair e havia sido escondido no bolso de uma roupa, no armário de seus pais.
Uma saída do pai, uma distração da mãe e lá estava ele na rodoviária de Volta Redonda. Duas horas depois chega ao Rio e pouco adiante estava em frente à praia de Ipanema. A sensação de liberdade e de vida nova seguia lado a lado com o medo do desconhecido.
O garoto teve preferiu não se hospedar: “O que vou dizer se me perguntarem com quem estou ou onde estão meus pais?!”. Ficou decidido que dormiria na praia. Para não ser assaltado, cavou um fundo buraco, jogou a mala, entrou e, durante a noite, dele só aparecia a cabeça e os braços. Para o dia restava caminhar pelas ruas da cidade grande, com a mala a tiracolo. A rotina durou cinco dias.
Fora então a procura de uns amigos da família. Sem endereço, ele contentou-se em começar a busca sabendo apenas que a casa ficava em uma transversal da extensa rua principal da Tijuca. Sabia também que o número do telefone começava com dois. Só.
Estava disposto a gastar uma semana percorrendo todo o trajeto, mas não foi necessário. Um pouco de papo jogado fora com meia dúzias de pessoas e o garoto boa praça foi levado até a casa da família.
Depois do banho com água doce, em falta há cinco dias, tratou de contar as aventuras, ainda um pouco acanhado. A preocupação era simples: se seus pais soubessem de seu paradeiro, tudo estaria acabado; retornaria a Volta Redonda e ainda teria que enfrentar certa fúria de seu pai.
“Não, não vamos contar. Ninguém ficará sabendo”. O menino acreditou na história e dois dias depois, como não poderia deixar de ser, pai e mãe chegaram ao Rio. O discurso era simples; “Filho meu mora comigo”. E nesta história foi-se a chance de permanecer na casa dos amigos, foi-se a oportunidade de ser adotado pela madrinha (que tinha boas condições financeiras, morava no Rio e fez a proposta ao saber da confusão).
A desventura de uma semana, não se pode negar, fez do garoto mais corajoso. O único a apanhar entre os irmãos encheu o peito e se impôs. “Volto, mas só se for para nunca mais apanhar”. Dito. Feito.
A última fez que seu pai lhe levantou a mão já havia passado, foi antes da ida ao Rio. Engana-se, porém, quem acredita que isto resolva a história. A vida do rapaz ainda era muito curta e os problemas haviam apenas começado.